Rafael Barbosa Do G1 RN
Henrique Abreu registrou o socorro às vítimas em frente à Kiss (Foto: Henrique Abreu/Arquivo pessoal)
“Acordei com muita gente ligando para perguntar se eu estava na boate”. O publicitário Henrique de Abreu Souza, de 29 anos, voltou para casa depois de ser barrado na porta da boate Kiss, em Santa Maria, por estar vestindo bermudas. Abreu vive em Natal há cinco anos, mas morou na cidade gaúcha dos três aos 21 anos de idade. Ele retornou ao local onde ocorreu o incêndio depois de ser avisado sobre a tragédia e presenciou o socorro às vítimas e o desespero dos familiares. Ao todo, segundo o Governo do Rio Grande do Sul, 231 pessoas morreram na tragédia.
O publicitário foi a Santa Maria para comemorar o aniversário da mãe e recebeu o convite de dois primos para ir à boate enquanto jantava na casa de uma tia. “Eu não queria ir à festa, mas eles insistiram e acabei indo”, contou. Ao chegar à porta da Kiss, Henrique de Abreu foi surpreendido pela informação de que não poderia entrar no local com a roupa que estava vestindo – bermudas e camiseta.
Henrique conversou com o G1 por telefone. “Eu disse aos meus primos que iria em casa e depois retornaria com a roupa adequada, mas acabei não voltando”, detalhou. O publicitário disse que foi acordado de madrugada com ligações feitas pelos primos, que conseguiram escapar do estabelecimento, e por amigos que moram em outros estado e ficaram sabendo do incêndio pela imprensa. Todos queriam saber se ele havia conseguido entrar na boate. “Muita gente de São Paulo, Pernambuco e de Natal me telefonou”.
Ao saber da notícia, Henrique de Abreu resolveu ir até a boate Kiss para prestar socorro às vítimas. “Era um cenário de guerra. É muito diferente saber de um acontecimento desses pela TV e presenciar o fato”, falou o publicitário.
“Nessa hora todo mundo vira bicho”. Henrique Abreu disse que as pessoas 'criaram força' para tentar quebrar as paredes do estabelecimento que, segundo ele, eram muito espessas. “Pessoas chorando, gritando, sem saber o que fazer. Foi horrível”, lembrou. Os dois primos de Henrique que conseguiram sair da boate realizaram exames médicos e foram liberados.
Muitas pessoas se concentraram em frente à boate após o incêndio (Foto: Henrique Abreu/Arquivo pessoal)
Entre os mortos está o agrônomo Sílvio Beurer Júnior, que completava 32 anos no domingo (27). Ele era amigo de infância de Henrique Abreu. “O velório dele foi emocionante e muito triste”. O publicitário disse que o clima em toda a cidade é de consternação. Na segunda-feira (28), poucas lojas abriram e o comércio quase todo estava parado, de acordo com Henrique.
Henrique ainda está em Santa Maria. Ele tem retorno marcado para Natal, onde mora e trabalha, para a próxima segunda-feira (4).
Incêndio e prisões
O incêndio que matou 231 pessoas começou por volta das 2h30 de domingo (27), durante a apresentação da banda Gurizada Fandangueira, que utilizou sinalizadores para uma espécie de show pirotécnico.
Segundo relatos de testemunhas, faíscas de um equipamento conhecido como "sputnik" atingiram a espuma do isolamento acústico, no teto da boate, dando início ao fogo, que se espalhou pelo estabelecimento em poucos minutos.
Quatro foram presos nesta segunda-feira após a tragédia: o dono da boate, Elissandro Calegaro Spohr, o sócio, Mauro Hofffmann, e dois integrantes da banda Gurizada Fandangueira, que fazia um show pirotécnico que teria dado início ao incêndio, segundo informações do delegado Sandro Meinerz, responsável pelo caso.
O advogado Mario Cipriani, que representa Mauro Hoffmann, afirmou que o cliente "não participava da administração da Kiss".
Na manhã desta segunda, outros dois integrantes da banda falaram sobre a tragédia. "Da minha parte, eu parei de tocar", disse o guitarrista Rodrigo Lemos Martins, de 32 anos.
Por meio dos seus advogados, a boate Kiss se pronunciou sobre a tragédia, classificando como "uma "fatalidade".
A presidente Dilma Rousseff visitou Santa Maria no domingo e decretou luto oficial de três dias.
O comandante do Corpo de Bombeiros da região central do Rio Grande do Sul, tenente-coronel Moisés da Silva Fuch, disse que o alvará de funcionamento da boate estava vencido desde agosto do ano passado.
Em depoimento, Spohr afirmou à Polícia Civil que sabia que o alvará de funcionamento estava vencido, mas que já havia pedido a renovação.
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