Mão Branca, 30 anos depois
Bastos Farias // bastosfarias.pb@dabr.com.br //Severino Lopes // severinolopes.pb@dabr.com
Diário da Borborema, edição do dia 13 de julho de 1980. Com exclusividade, o listão que o "Mão Branca" divulgou os 115 nomes daqueles que seriam suas vítimas, dentre elas, advogados, policiais, intrujões, estelionatários, assassinos, traficantes de drogas e assaltantes. Começava ali um epílogo de sangue que manchou a história de Campina Grande.
O jornalista Ronaldo Leite, que na época cobriu o caso, em palestra na Universidade Estadual da Paraíba sobre a atuação dos matadores Foto:Junot Lacet/DB/D.A Press
Bastos Farias // bastosfarias.pb@dabr.com.br //Severino Lopes // severinolopes.pb@dabr.com
Diário da Borborema, edição do dia 13 de julho de 1980. Com exclusividade, o listão que o "Mão Branca" divulgou os 115 nomes daqueles que seriam suas vítimas, dentre elas, advogados, policiais, intrujões, estelionatários, assassinos, traficantes de drogas e assaltantes. Começava ali um epílogo de sangue que manchou a história de Campina Grande.
A carta encaminhada ao DB e à Central de Polícia mais tarde teve a origem identificada: partiu das entranhas da própria polícia. De início, ninguém levou em consideração, acreditando trata-se de mais uma brincadeira de pessoas que buscam o anonimato para pregar peças e causar medo à população.
Mas o que foi anunciado aconteceu. E a cidade passou a viver sob o signo do medo, com o "MB" entrando em ação dias após tornar público a intenção de "fazer uma limpeza", tomando como base o alto grau de criminalidade que a cidade enfrentava.
Um dia após a publicação da lista negra, o arrombador Paulo Roberto do Nascimento, conhecido por Beto Fuscão, foi encontrado com um tiro de espingarda "12" no peito ao lado do estádio Amigão, no bairro do Catolé. O então repórter do Diário da Borborema, Ronaldo Leite, recorda o telefonema que recebeu: "Tem um crioulo morto na torre do Amigão".
No dia 15, a manchete do jornal relatava a primeira de uma série de mais de 30 mortes: "Mão Branca inicia matança: um tiro de 12 matou Beto Fuscão". Um dia depois, o carrasco deu sequência ao prometido: tombaram sem vida Marcos Antônio da Silva, vulgo "Mocotó", Paulo Francisco de Oliveira, "Paraibinha", e Paulo José dos Santos Félix", conhecido por "Queimadas".
Com vários perfurações a tiros - os marginais foram mortos com requintes de crueldade - dois corpos foram encontrados no sítio Velame e um outro perto do hospital da FAP, exatamente onde, demonstrando muita ousadia, os matadores informaram em telefonemas à Central de Polícia e à Imprensa.
A partir daí, os sequestros seguidos de mortes continuaram, com as execuções de"Bermuda", "Negro Rei", "Pernambuco", "Barrão" etc. Com medo da morte, muitos criminosos que estavam no listão desapareceram de Campina Grande.
Conta o jornalista Ronaldo Leite que a denominação "Mão Branca" foi copiada de um grupo de extermínio que atuava no Rio de Janeiro, que inclusive, foi responsável pelo assassinato do marginal conhecido por "Paraibinha". O crime ganhou ampla repercussão na Imprensa, em função da "luva branca" deixada sobre o corpo e que deu origem à denominação chegada posteriormente a Campina Grande.
A matança na Rainha da Borborema e cidades vizinhas também ganhou amplo destaque na mídia, inclusive, fora do país, com notícias até mesmo nos jornais Clarin, da Argentina, Washington Post e New York Time, dos Estados Unidos.
O medo imperava na cidade, pois os matadores também cometeram alguns crimes de pistolagens. A população ficou dividida. Uns apoiavam em função da "limpeza" que o grupo promovia, mas a forma cruel e impiedosa aos poucos começou a ser reprovada.
O então bispo diocesanoDom Manoel Pereira deu os primeiros gritos e pediu providências ao governador da época Tarcísio de Miranda Burity contra o massacre. Com ordens do Palácio da Redenção, foi criada uma comissão judicial, presidida pelo então promotor de Justiça Agnello Amorim, hoje procurador aposentado.
Como se não se intimidasse com as investigações, o grupo iniciou uma série de ameaças contra as autoridades, com cartas e telefonemas anônimos. "#Diga ao Dr. Agnelo Amorim, que também saia da jogada, porque se não sair vai ser fechado#", diz trecho de uma carta enviada ao advogado William Arruda, então representante do governo do estado na cidade.
O jornalista Assis Costa, que também era repórter policial do DB na época, conta que os repórteres ficavam até meia noite esperando o telefone tocar para correr até o local onde o próximo corpo estaria jogado. "O que chamava a atenção da sociedade e revoltou a igreja era a forma cruel como o Mão Branca executava as suas vítimas", lembra Assis, acrescentando que quase todos os cadáveres tinham os órgãos arrancados, como braços, pernas e até a língua.
Com o passar do tempo, toda Campina Grande já sabia de onde partiam as execuções; no entanto, a população permanecia calada temendo represálias. Mas a comissão apurou e apontou os sanguinários integrantes do esquadrão da morte. Eram cinco investigadores de polícia que patrocinavam a matança: José Basílio Ferreira, o Zezé Basílio; Cícero Tomé da Silva, Antônio Gonçalves da Costa "Temporal", José Carlos de Queiroz, "Zé Cacau", e Francisco Alves da Silva, este último, o único vivo.
Levados a júri, apenas Basílio foi condenado, pois era apontado como o mais carrasco de todos e um dos principais executores. Ficou preso por muitos anos no presídio regional do Serrotão e acabou morrendo do coração.
Absolvidos, outros três integrantes do grupo desapareceram de Campina Grande e depois morreram. Chico Alves vive em João Pessoa, mas evita falar sobre o caso, mas, a exemplo dos outros, sempre negou participação nas mortes, se dizendo inocente.
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