quinta-feira, 11 de outubro de 2012

' SOU FELIZ ', DIZ MENINO QUE BRINCA DE BILOCA E SURFA COM ISOPOR NO RN

Caroline Holder Do G1 RN
 
Carlos Daniel exibe o brinquedo preferido: uma prancha improvisada (Foto: Caroline Holder/ G1 RN)

Na praia de Ponta Negra, em Natal, as atenções dos turistas são voltadas para o principal cartão postal da cidade: o Morro do Careca. O cenário natural também atrai os nativos. No local, filhos de pescadores aproveitam para brincar ao ar livre depois da escola. Sem prancha para “pegar onda”, as crianças usam a criatividade e transformam pedaços de isopor em apoio para flutuar. O surfe improvisado é a brincadeira preferida da criançada.
 
Bolinha de gude é uma das brincadeiras preferidas (Foto: Caroline Holder/G1)

Quando o mar não está para peixe, nem para ondas, os pescadores e os filhos improvisam a diversão no quintal de casa. A brincadeira? ‘Biloca’, como a bolinha de gude é chamada pelos potiguares. As crianças escolhem o tamanho certo, colocando o objeto na palma da mão, e depois é só atingir o alvo. “A gente tem que colocar a biloca entre as linhas que desenhamos na areia. É muito legal”, diz Carlos Daniel, de 9 anos, ao se preparar para a partida.

No final da tarde, com a maré cheia, a diversão é na praia, a poucos metros da vila onde moram. A ordem é cair no mar - de roupa e tudo - e surfar. Mas como praticar o surfe sem prancha? “A gente cria. Essa eu peguei do barco do meu pai. Ele coloca os peixes dentro do isopor. Quando não serve mais, eu quebro e uso como uma prancha. É muito divertido. Sou feliz demais, sabia?”, frisa Carlos Daniel.
 
Diversão com brinquedos improvisados (Foto: Caroline Holder/ G1 RN)

É fácil perceber que eles são felizes. Enquanto esperam a próxima onda, já inventam outra brincadeira. “Agora vamos tentar ficar de pé, em cima da prancha na areia, enquanto a onda não volta”, diz Guilherme Alves, de 10 anos, ao colega.

Questionados quanto ao uso de computadores para brincar com jogos, ou navegar na internet, a garotada diz que só usa na escola, já que não tem o aparelho em casa. “Eu acho que já mexi no computador umas sete vezes. Às vezes tenho aula nele, acho legal. Mas prefiro joguinho na praia, na rua. É mais legal”, afirma.
 
Garatoda se diverte no Surf (Foto: Caroline Holder/ G1 RN)

O pescador Cássio da Silva, pai de Carlos Daniel, que acompanha a garotada quando pode, diz que acha a rotina das crianças muito saudável, igual a que ele tinha quando pequeno. “Acho bonito eles gostarem das brincadeiras de antigamente. Gastam energia, se divertem e ainda é de graça”, defendeu Cássio.

A opinião de Cássio é endossada pela da psicóloga Jane Dantas, especialista em clínica infantil e intervenção familiar sistêmica. “Estas brincadeiras estimulam a coordenação motora, a interação social, e o desenvolvimento físico, cognitivo e emocional, tudo ao mesmo tempo. Já a tecnologia em excesso prejudica o desenvolvimento de tudo isso”, explica Jane.
 
Turma de amigos da Vila de Ponta Negra (Foto: Caroline Holder/ G1 RN)

Contudo, a psicóloga ressalta que a tecnologia precisa ser inserida na vida das crianças. Se não houver condição financeira de ter o computador em casa, a escola deve suprir esta lacuna. “As crianças não podem ficar à margem da contemporaneidade. E a tecnologia também tem o lado positivo, pois estimula a inteligência. Só não pode ser usada em excesso”, completou Jane Dantas.

A turma da Vila de Ponta Negra estuda em uma escola pública do bairro pela manhã, à tarde participa de projetos sociais na comunidade e no final do dia está liberada para a brincadeira. “A melhor parte do dia é brincar na praia. Deve ser muito ruim não ter o mar pertinho de casa”, concluiu Carlos Daniel.

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